Os tokens não-fungíveis (NFTs) revolucionaram a indústria de arte e forneceram uma nova maneira para os criadores venderem seu trabalho. Não apenas isto, a nova tecnologia que é a principal engrenagem de diversas transformações no mundo virtual é a resposta para a descentralização de informações da web3. Por se tratar de uma nova tecnologia, milhares de perguntas surgem, principalmente sobre seu impacto no meio ambiente. A blockchain está prejudicando o planeta?
Muitos acreditam que o alto consumo de energia necessário para alimentar blockchains como o Bitcoin contribui significativamente para as mudanças climáticas. Neste artigo, examinaremos as evidências e separaremos os fatos da ficção para entender o verdadeiro impacto ambiental dos NFTs e da tecnologia blockchain.
Blockchain: a base de tudo
Os tokens não fungíveis (NFTs) têm sido uma ferramenta útil para muitas pessoas. A tecnologia baseada em blockchain tem permitido que artistas criem e vendam seu trabalho de novas maneiras, ajudado pesquisadores a levantar fundos para instituições científicas e até mesmo contribuído para ajudar os ucranianos durante a invasão russa.
Além disso, a tecnologia blockchain está contribuindo para uma nova iteração da internet, conhecida como Web3. O blockchain proporciona uma das principais vantagens: descentralizar a web, para que uma rede democrática de usuários possa armazenar e gerenciar dados. Uma proposta totalmente diferente do que acontece na web2, com alguns intermediários gigantes que controlam tudo de acordo com suas próprias regras opacas.
As redes criptográficas alimentadas por blockchain são a base do Web3. Isso é o que possibilita armazenar dados em dispositivos distribuídos globalmente, ao invés de depender de uma única fonte centralizada. O blockchain é um livro público digital compartilhado que essencialmente coleta transações de dados.
Como a blockchain usa energia
Para ser mais preciso, o consumo de energia dos grandes blockchains é enorme em escala. No caso do Bitcoin e do Ethereum (antes da histórica fusão Ethereum de setembro de 2022, que falamos mais sobre neste post aqui), eles consumiram mais de 317 TWh de energia anualmente, colocando as cadeias em algum lugar entre a Itália e o Reino Unido em termos de energia elétrica consumida.
Embora seja verdade que o Bitcoin seja o maior blockchain do mundo e que esteja muito além de outros blockchains em termos de requisitos de energia, é importante lembrar que inúmeras indústrias globais consomem mais energia do que países inteiros.
O consumo anual total de energia do Bitcoin é menor do que o exigido pelas unidades de ar condicionado residenciais do mundo e menor do que as necessidades de energia dos data centers do mundo, como Apple, Google e Amazon.
No entanto, isso não significa que blockchain e NFTs não tenham impacto no meio ambiente. É importante considerar as coisas em seu contexto adequado, e os tons moralistas rígidos usados por aqueles que condenam os NFTs parecem menos justificados.
Críticas vs Pesquisas
Há uma tendência incoerente de pensar em requisitos de energia para certas tecnologias. Por exemplo, pensamos na gasolina do carro no mês passado e eletricidade da casa em um dia. Já sobre o blockchain, dizem que “Bitcoin usa tanta energia por ano” ao invés de considerar o consumo em escala local.
Para entender a relação entre NFTs e o ambiente, precisamos determinar quanta energia uma transação NFT usa. Sendo assim bem diferente do que usar os números relacionados a uma blockchain inteira.
Em um estudo comparativo do consumo de energia de vários blockchains, o pesquisador Juan Ignacio Ibanez do Centro de Tecnologias Blockchain da University College London e seus colegas destacaram os problemas com estudos anteriores. Eles explicaram que os argumentos frequentemente equiparavam uma transação NFT à criação de um bloco inteiro no blockchain, quando na verdade os mineradores continuam seu trabalho mesmo que não haja transações para registrar em um bloco, pois são incentivados a fazê-lo por meio de pagamentos criptográficos.
Os pesquisadores estão trabalhando para avaliar o impacto das transações NFT na pegada de carbono dos sistemas blockchain. Embora ainda não haja números concretos, há um progresso significativo no entendimento da situação. Finalmente podemos entender se as transações NFT adicionam algo significativo à pegada de carbono dos sistemas blockchain dos quais fazem parte.
A culpa é dos artistas?
Não. É importante lembrar que a ideia de pegada de carbono individual foi introduzida pelo gigante do petróleo BP, como uma forma de transferir a culpa pela catástrofe ambiental para os consumidores. Antes dessa abordagem, a responsabilidade pelo impacto ambiental era principalmente atribuída às empresas produtoras de energia.
É por isso que, ao culpar artistas de NFTs por incentivar a mineração de blockchain, devemos ter em mente que a responsabilidade pela sustentabilidade é compartilhada e que é necessário um esforço coletivo para enfrentar a crise climática.
Os consumidores e as empresas precisam adotar práticas sustentáveis e buscar soluções inovadoras para reduzir o impacto ambiental das tecnologias emergentes, como blockchain e NFTs.
Além disso, se você ainda acha que criticar os artistas NFT é justificado por razões ambientais, considere o que sugere como uma alternativa melhor. A venda de arte em camisetas, por exemplo, não é uma opção mais sustentável, já que a indústria da moda é atualmente responsável por mais emissões anuais de carbono do que todos os voos internacionais e remessas marítimas juntos.